PARABOLA
DA REDE
O
homem bom é aquele que tem experiência na Infinita Realidade, que vive e age em
perfeita harmonia com essa consciência divina; o homem que age eticamente em
consequência da sua experiência mística.
A
parábola da rede e seu conteúdo afirma uma separação final e definitiva entre
os bons e os maus, entre os que são internamente bons e agem externamente de
acordo com sua consciência. O homem pode e deve tornar-se internamente bom; é
esta a sua razão de ser aqui na Terra; e, como transbordamento desse seu
ser-bom em Deus, deve fazer bem aos homens.
Ser-bom
(mística) é fazer-bem (ética) – é esta a finalidade do homem aqui na Terra e
alhures. Quem assim é e assim age entra na vida eterna – mas quem não é assim e
não age assim sucumbe à morte eterna. A morte eterna é a extinção da sua
individualidade, a sua desintegração por falta de integração, a sua
desrealização por falta de realização.
O
período para essa integração ou realização do homem não se restringe
apenas
aos poucos decênios da sua vida terrestre, mas é o ciclo total da sua
existência,
“nas muitas moradas em casa do Pai Celeste”, ciclo que pode
abranger
milhares e milhões de anos. Mas, segundo as imutáveis leis cósmicas, quem não
se realiza se desrealiza, extingue-se.
O
homem não é imortal, mas é imortalizável. Quem pode imortalizar-se deve
imortalizar-se, e quem pode e deve e não faz, crea débito, e todo débito gera
sofrimento.
Neste
sentido diz o Mestre: “Eu vim para que os homens não pereçam, mas
tenham
a vida eterna... Quem tiver fidelidade a mim não morrerá, e ainda que tenha
morrido (fisicamente) viverá para todo o sempre”.
A
parábola da rede proclama a possibilidade da vida eterna e a possibilidade da
morte eterna. Compete ao livre-arbítrio do homem escolher entre essas duas
alternativas: realização – ou desrealização.
*
* *
A
vida eterna não é uma dissolução do homem no Todo, como ensina a ala
esquerda
do budismo, mas é uma integração do indivíduo no Todo, como
defende
a ala direita do budismo, de acordo com o Evangelho do Cristo.
Quem
se dissolve deixa de existir – quem se integra continua a existir.
A
Vida Universal não “existe”, ela “é”. A vida individual continua a existir quando
se integra no Todo, mas deixa de existir (embora continue a ser) quando não se
integra, mas se dissolve no Todo. Aqui na Terra, é o homem a única creatura que
pode continuar a existir individualmente no Todo Universal; as outras creaturas,
quando morrem, deixam de existir individualmente, porque o eu “vivo individual”
se dissolve na Vida Universal.
A Parábola da Rede está descrita no seguinte registro do
apóstolo e evangelista Mateus 13:47,50:
(Mateus, 13:47-52-“o Reino dos Céus é ainda semelhante a rede
lançada ao mar, que apanha de tudo. Quando está cheia, puxam-na para a
praia e sentados, juntam o que é bom em vasilhas, mas o que não presta deitam fora.
Assim será no fim do mundo; virão os anjos e separarão os maus dos justos e os
lançarão na fornalha ardente. Ali haverá choro e ranger de dentes”.)
Na parábola, o Reino dos Céus é comparado a uma rede que —
abstraindo-se da simbologia usual dos textos sagrados —, pode ser definida como
o instrumento que recolhe do mar da vida, Espíritos de diferentes graus
evolutivos para, juntos, fazê-los progredir, de acordo com os preceitos da lei
de amor, justiça e caridade, assim considerada por Allan Kardec: “O
progresso da Humanidade tem seu princípio na aplicação da lei de justiça, amor
e caridade; essa lei é fundada na certeza do futuro.[…] Dessa lei derivam todas
as outras, porque ela encerra todas as condições de felicidade do homem.[…].”
Recolhidos em um espaço comum, homens de todas as raças, credos
e diversidade intelectual e moral são apanhados para serem julgados de acordo
com suas obras: “Dizem-nos de todas as partes que são chegados os tempos
marcados por Deus, em que grandes acontecimentos se vão para a regeneração da
humanidade. […].”
Significa também
dizer: Até aqui, a humanidade tem realizado incontestáveis
progressos. Os homens, com a sua inteligência, chegaram a resultados que jamais
haviam alcançado, sob o ponto de vista das ciências, das artes e do bem-estar
material. Resta-lhes, ainda, um imenso progresso a realizar: fazerem
que reinem entre si a caridade, a fraternidade, a solidariedade, que lhes
assegurem o bem-estar moral.
Colhidos pela pescaria divina, os homens são convidados a se
renovarem pela prática do bem, no pensar, falar e agir, libertando-se das
algemas do egoísmo e do orgulho que escravizam consciências. O momento exato em
que somos brindados pelas oportunidades divinas estão, resumidamente,
representadas nestes esclarecimentos de Emmanuel:
Observa em derredor de ti e reconhecerás onde, como e
quando Deus te chama em silêncio a colaborar com ele, seja no desenvolvimento
das boas obras, na sustentação da paciência, na intervenção caridosa em
assuntos inquietantes para que o mal não interrompa a construção do bem, na
palavra iluminativa ou na seara do conhecimento superior, habitualmente
ameaçada pelo assalto das trevas. […].
O processo de seleção, ensinado pelo Cristo, é muito simples e
objetivo, como consta no versículo 48: juntam o que é bom em vasilhas, mas
o que não presta deitam fora. Implica dizer que os que permanecerem
fiéis e perseverantes no bem-estarão aptos para habitar um mundo de
regeneração. Os demais, são considerados Espíritos retardatários, que
necessitam repetir experiências em ambientes que lhes estimulem o progresso
espiritual.
Tendo o bem que reinar na Terra o bem, é preciso que dela sejam
dela excluídos os Espíritos endurecidos no mal e que possam trazer-lhe
perturbações. Deus permitiu que eles aí permanecessem o tempo necessário para
se melhorarem; mas, chegado o momento em que, pelo progresso moral de seus
habitantes, o globo terráqueo tem de ascender na hierarquia dos mundos, ele
será interdito, como morada, a encarnados e desencarnados que não hajam
aproveitado os ensinamentos que uns e outros se achavam em condições de aí
receber. Serão exilados para mundos inferiores, como outrora o foram para a
Terra os da raça adâmica, vindo substituí-los Espíritos melhores. […].
Não há dúvida de que tal seleção produzirá sofrimento, lágrimas
e amarguras, citados nos versículos seguintes, 49 e 50: Assim será no fim
do mundo; virão os anjos e separarão os maus dos justos e os lançarão na
fornalha ardente. Ali haverá choro e ranger de dentes”. Pode-se perceber,
contudo, que a separação será realizada por Espíritos altamente qualificados,
os anjos. Ou seja, Espíritos puros que, superiormente esclarecidos e bondosos,
saberão envolver com muito amor os menos evolvidos nos processos reeducativos.
Como a cooperação integra os fundamentos da legislação divina,
esses enviados celestiais, por sua vez, contarão com o apoio de Espíritos
devotados que, ao assumirem missões e compromissos, entre os encarnados ou os
desencarnados, atuarão como instrumentos do progresso. Emmanuel, em sua
sabedoria, nos ensina a identificar os benfeitores que, muitas vezes, ombreiam
conosco na estrada da vida.
Ser-nos-á sempre fácil discernir a presença dos mensageiros
divinos, ao nosso lado, pela rota do bem a que nos induzam. Ainda mesmo que
tragam consigo o fulgor solar da Vida Celeste, sabem acomodar-se ao nosso
singelo degrau nas lides da evolução, ensinando-nos o caminho da Esfera
Superior. E ainda mesmo se alteiem a culminâncias sublimes na ciência do
Universo, ocultam a própria grandeza para guiar-nos no justo aproveitamento das
possibilidades em nossas mãos. Sem ferir-nos de leve, fazem luz em nossas
almas, a fim de que vejamos as chagas de nossas deficiências, de modo a que
venhamos saná-las na luta do esforço próprio.
FONTE:
O Novo
Testamento
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
A Gênese.
Encontro
Marcado
Religião dos Espíritos
Huberto
Rodhen
Bíblia
de Jerusalém
Carlos
T. Pastorino
FEB
Nenhum comentário:
Postar um comentário