Todo mundo deveria ter pelo menos um amigo pra se guardar debaixo de sete chaves dentro do coração.
Diga-me com quem andas e direi se vou junto. Devo confessar, atrás do
meu trio elétrico segue hoje um bloco dos que viviam na duvida e hoje navegam
quase na certeza, pelo menos sem medos insanos, que durante séculos lhe puseram
na cabeça. Mas pelo menos um que chamo de amigo carrega a minha amizade, aquela
outra metade da minha certeza, do meu passado. Meu amigo carrega a sanidade
essencial para suportar o meu pior. Carrega a eloquência necessária para
compreender meus avessos. Quem, se não ele, toparia contato tão próximo diante
de nossas intimidades? Por carregar a segurança, a seriedade e o respeito que
me faltam.
Amizade e desvario, combinação que está longe de ser exclusividade
minha. Todo mundo tem, ou já teve, um amigo adorável que parece um belo dia
qualquer ter perdido um dos parafusos enquanto tropeçava por aí. Alguém capaz
de tomar de assalto os melhores momentos de nossa existência. Gente de peito
aberto, cara lavada, coração exposto. Aquele que nos recebe de braços abertos,
como quem acabara de chegar para uma comemoração imperdível. Gente apta a
transformar uma simples ida ao ponto de ônibus num passeio divertido, a nos
fazer rir até não agüentar, sentar num sofá e fofocar despretensiosamente na
pista da vida. Gente que divide conosco os problemas e encontra solução para
eles. Alguém que escuta nossos foras e
mancadas, até mesmo em uma ligação inconvenientemente bem recebida. Amigo assim
tem o coração mais parceiro de todos, que se abraçam ao nosso ombro quando
choramos, que aquece as boas memórias e nos assegura acolhimento quando nos
atrevemos a encarar as tempestades. Amigos sérios pintam na nossa cara um riso
largo, insistem em querer nos ver bem. Cultivar amizades que nos façam sorrir é
um privilégio, pois amigo que não sorri junto, tampouco conseguirá se preocupar
conosco.
A condição para a amizade verdadeira é não ter condições, é crer que
certa pessoa carrega por nós, e nós por ela, um bocado de bem-querer. Um tipo
de amor despretensioso, mas de força imensurável, capaz de afogar qualquer
situação ruim. A amizade é a mais bonita das oportunidades humanas, como um
lugar de se reconhecer, de saber quem se é. A amizade é feita de “nós”, por nós
e para nós.
Somos loucos? Tanto quanto somos médicos! Vá lá! Um pouquinho. Um tanto
de loucura que nos livre da chatice, da normalidade infértil e da sisudez
carrancuda. Somos um tanto loucos, o suficiente para não sermos engolidos pelo
senso comum, o bastante para darmos boas risadas, enquanto nossas histórias se
cumprem e se repetem felizes, num tempo que jamais se perderá. E tem coisa
melhor que ter alguém que possa rever o lado bom e o ruim sem fazer qualquer
julgamento, apenas rindo? Eu tenho! São 71 anos de existência para ter apenas
um amigo e poder com liberdade chamá-lo pelo apelido que muitos discordariam.
Neuceta; vamos dizer; mistura de Nelson com beleza. Assim fica melhor.
Aulus
Fonte:
Web
Zap
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